domingo, 30 de maio de 2010

SEX AND THE CITY 2 E DOSTOIÉVSKI

Assisti ao filme Sex and the city 2 por falta de outro melhor naquele horário e local. Como o que me interessa são as relações humanas e não outro atributo cinematográfico tais como efeitos especiais ou esplêndidas fotografias, dei-me por satisfeito observar e espiar as relações humanas.

O filme retrata a vida de quatro mulheres, a advogada, a escritora, a dona de casa e a ninfomaníaca que se vêem as voltas com seus problemas domésticos e existenciais num mundo moderno de regras cada vez menos claras e transparentes.

A vida já atravessou séculos de história e cá estamos nós, através da cultura americana, discutindo o amor, sexo, casamento e filhos como se novas regras devessem ser criadas ou abolir as que já existem.

O filme é a velha roda da história expondo as diferenças físicas, psíquicas e biológicas entre homens e mulheres, que, através de regras formuladas, criadas ou arranjadas pelas mais diferentes culturas, manteve intacto este núcleo familiar que serviu para estruturar o estado, a religião pelo braço da moral e ao mercado através da procriação.

Sabe-se que a mulher no passado foi relegada a papéis inferiores sob á égide patriarcal e, com a luta feminina, na busca da sua liberdade como individuo, conquistou e está conquistando papéis antes destinados aos homens, hoje dividindo em pé de igualdade, conquistando inclusive a cabeça da família através da família monoparental.

Voltando ao filme Sex and the city 2, percebi que o mesmo propõe, se não abertamente, pelo menos sugere entrelinhas que, mediante uma crise de identidade entre homens e mulheres e que diante do fato das regras estabelecidas não responderem de forma satisfatória as relações e desejos da família atual por que não mudarmos então? Se o conjunto de regras formulados pela ética, pela religião e pela moral não atenderem as “ necessidades atuais “, por que não formularmos regras individuais para cada núcleo familiar ou cada individuo? Reflito isto pensando que podemos estar a beira do colapso das referencias. Em não havendo referências onde buscá-las?

O filme transporta as mulheres para o oriente médio afim de contrapor uma cultura em crise de si mesma para uma cultura da subserviência feminina. A burca rivaliza com a perna de fora na busca da sensualidade dos opostos. Em determinado momento não sabia o que era mais sensual. Se o corpo oculto daqueles olhos brilhantes que a burca escondia mas que expunha a nudez dos olhos da mulher oriental ou as pernas expostas da americana ninfomaníaca.

Não cabe a mim e nem a cultura americana discutir se a burca deve ser abolida e se as mulheres daquele continente deveriam ser livres e exporem seus corpos a seus homens ou não. Cabem a eles decidirem por que sua cultura lhes pertence.

O que me leva a reflexão este filme é a proposta individualista do regramento da própria vida. E pensando nisso lembrei-me da frase de Dostoiévski através de seu Ivan Karamazov do livro “ Os Irmãos Karamazov:” “ se Deus não existe tudo é permitido.”

Sem nenhuma intenção de fazer qualquer apologia à religião como se coubesse a ela ditar as regras da perfeição das relações humanas e não acho que a religião ocupe e consiga este papel até por que a religião vive as voltas com suas crises no mundo, pergunto a mim mesmo e a quem queira refletir comigo. O que balizará o comportamento humano moderno? Que referências terão as gerações vindouras na formação do seu caráter e de sua vida?

O filme é ruim mas tentei tirar leite de pedra.

Um abraço e seja fantástico.

Livingston Streck

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