segunda-feira, 9 de novembro de 2009

TODO FIM É UM COMEÇO

Após 1 ano e 3 meses de relacionamento, com data marcada para o casamento, veio o fim. Uma breve discussão para a devolução de pertences que porventura estejam com o outro, a devolução do dinheiro “emprestado “ que na verdade nunca seria cobrado pois quando se casa torna-se 1(UM) inclusive a conta bancária.

Uma tristeza no peito, algumas lágrimas furtivas caindo da face, longe de todo mundo, e naquele recinto, um corpo com a imensidão das lembranças construídas ao longo desses dias em que o amor foi eterno.

É hora de inteligentemente fazer um balanço do relacionamento e lapidar os sentimentos. E o balanço foi satisfatório. Os presentes comprados e dados com muito carinho. Os poemas escritos e cada palavra vertida do coração. O inesgotável tempo em que as mãos estiveram a acariciar aqueles cabelos e aquela face. Os intermináveis beijos dados em que as almas quase se tocavam. A reprimenda do guarda naquela praça na Paulista por que o beijo era tão intenso e havia crianças por perto onde certamente algum pai se sentiu ofendido e chamou a segurança. A conversa inteligente que tivemos após esse episódio onde discutimos que os atos públicos de carinho ainda são agressivos aos olhos alheios muito mais do que a própria violência. E ainda rimos, desconfiados de que ninguém havia beijado naquele dia.

Mas um dia chega o fim como a vida. Tudo tem prazo de validade inclusive o amor. É hora de voltar com a bagagem para dentro de si mesmo. E como é bom voltar pra gente. Num relacionamento abrimos mão de muitas coisas pelo outro. Dedicamos nosso tempo ao objeto de nosso amor. Diminui-se as idas solitárias ao cinema, as idas aos concertos, lê-se menos, gasta-se menos com nossos desejos e pensa-se mais a dois.

Todo fim é um começo ou recomeço de nós mesmos. Estou voltando para os meus amigos, para os meus concertos no Teatro Municipal e na Sala São Paulo. Estou voltando para os meus passeios demorados nos Shoppings da minha cidade. Estou voltando para assistir minhas peças de teatro e pelos passeios no parque Ibirapuera e Villa-lobos. Estou voltando para ver as exposições na pinacoteca e no MASP. Estou voltando para os meus livros, relendo Para Além de Bem e Mal de Friedrich Nietzche, O processo de Franz Kafka, A cama na varanda de Regina Navarro Lins, A ética protestante e o espírito do capitalismo de Max Weber, Salve sua vida de Erica Jong, Auto engano de Eduardo Gianetti, Totem e tabu de Sigmund Freud. Estou voltando para os passeios e para as reflexões no parque do meu bairro onde respiro o ar filtrado pelas árvores que ainda existem por aqui. Estou voltando a falar com amigos inteligentes que me instigam e tiram de mim idéias e conversas inteligentes e com muita sabedoria.

É hora também de coisas novas. Ganhei flores de uma amiga e isto fez com que me apaixonasse por Orquídeas. Quero colecionar Orquídeas, ler sobre Orquídeas, vê-las em exposições etc. Quero enfim fazer o meu inglês e poder dominar esta língua por força dos novos tempos e pela necessidade profissional. Quero por fim fazer meu livro de poemas pois já tenho matéria prima o suficiente.

É hora de começar de novo como diz Ivan Lins. Com um pouco mais de cicatrizes, mas com doçura, com amor e com afeto. Amar pessoas, amigos, família e estar atento às necessidades físicas e emocionais de quem amamos.

É hora de por no lixo imaginário todas as decepções, as amarguras, as palavras ácidas que machucam o coração. É hora de por no lixo as incoerências, os desafetos e a ingratidão. A ingratidão como o pior dos males da humanidade deve ser extirpado de nós.

É hora de sorrir, de ser feliz e de amar. É hora de se auto-conhecer e de saber que toda a beleza do mundo está dentro da gente. Basta termos a coragem de tirar de dentro da gente esta beleza.

Livingston Streck

sábado, 7 de novembro de 2009

EXCERTOS DE UM DIÁRIO

Um sonho distante, sonhado e vivido em 3 de janeiro de 2005.

... desliguei o telefone suspirando. Era a voz mais linda que meu ouvido ouvira. Falara com docilidade, pausadamente e se desculpava quando sentia que minha fala era interrompida. Uma mulher nobre, de fina elegância e inteligente. Gostava de discutir filosofia, arte, política e poesia. Propusemos ela e eu, que, cada um escolhesse um tema aleatoriamente e fizéssemos uma pesquisa aprofundada sobre o tema escolhido para depois trocarmos estas informações para nos enriquecermos culturalmente. Propus a ela então que me falasse tudo sobre Anais Nin. Ela me pediu que eu falasse tudo sobre o Taj Mahal.

Simone, onde você estiver um beijo em sua alma...

OUTRO MISTÉRIO

Quando teus cabelos
Forem embrenhados
Por outros dedos
Que não os meus,

Quando em tua boca
Pousar outra boca
Que não a minha,

Quando em teus ouvidos
Beberem outras palavras
Que não as minhas,

É hora então
De varrermos
As últimas lembranças
Do peito,

Recolher o primeiro beijo
Na praça
À sombra daquela árvore,

Tirar da retina
Aquele olhar primeiro
Que o silêncio
Congelou no tempo,

Arrancar do peito
O vento,
As montanhas à frente
Que suspiraram por nós,

Apagar a tarde interminável
Em que deitaste
No meu colo,

Desembrenhar meus dedos
Dos teus cabelos
E esperar minha boca
Pousar em outro mistério.

Livingston