quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O SILENCIO

O grito denuncía
O agarrar-se
A vida,
O abandono
A merce
Da morte,
A boca
Geme
Um querer ser,
O frágil
Corpo
Onde a vida
Não cabe
Por inteira,

No frágil
Corpo do gato
Cabe apenas
O silêncio
E o silêncio
Se instala
Mansamente
Dando ao gato
A sua missão
De vir a vida
Para ser
O porta-voz
Da morte.

Livingston Streck
25/09/2010

O DESEJO

Por debaixo
Da pele
Um pensamento,
Um fruto
Mordido
Inconstante
E inatingível,
Fugaz
Como o vento
Que é essencial
Mas despercebido,

Assim
É o desejo
Que nasce
Do recôndito,
Um monstro
Insaciável
Sanguinolento
Que habita
O doce olhar
Da gazela
E vagueia
No sangue
Da poesia,

O desejo
É um buraco
De mazelas
Horror
E lágrimas.

Livingston Streck

domingo, 12 de setembro de 2010

A PRESSA, O IMEDIATISMO E O FIM DA EMOÇÃO


Até os meus trinta anos eu não sabia o que era internet, email, skype, web cam e demais parafernálias. Também não tinha celular. Até os meus vinte anos eu não tinha telefone em casa.

Me comunicava por cartas. Pela boa e velha cartinha. De 15 em 15 dias recebia as cartinhas das minhas paixões, dos amigos e parentes. Meu coração pulava quando o carteiro tocava a campainha por que sabia que alguém estava chegando através das linhas rabiscadas no papel.

Recebia cartas perfumadas as quais eu me demorava cheirando antes de ler. Deixava pousada em meu peito por alguns instantes afim de materializar aquela pessoa que distante chegava até minhas mãos pela sua caligrafia. Beijava aquelas folhas, aquelas linhas e aquelas letras.

Eram papéis coloridos, com gravuras coladas e páginas e páginas. Antes de ler tinha o meu ritual que durava muitos minutos. Após o ritual começava a leitura da carta. Lia e relia o primeiro parágrafo umas dez vezes. Precisava estar certo de que alguém parou para me escrever. Que alguém parou para gravar no papel toda a emoção e saudade da ausência e da distância. Guardava as cartas em caixas de sapato para recorrer a elas quando precisava ter a pessoa por perto.

A carta morreu, virou e-mail. Imediata, fria e sempre com pressa. Não tenho mais o perfume dela, o carteiro não vem mais a minha casa entregar e não pouso-a mais em meu peito. Ela chega em silencio na caixa de e-mails fria e sem emoção. Lemos, arquivamos o que interessa, deletamos o que não interessa respondemos ou não dependendo da circustância.

O e-mail é a metáfora dos novos tempos. Parece que uma certa emoção e uma certa delicadeza já não cabem mais em nossos relacionamentos. Temos que ter pressa, pouca emoção e muita objetividade. O twitter reduziu a carta a 140 caracteres. Temos que dizer tudo em 140 caracteres. Ainda reduzirão a comunicação para míseros caracteres em breve.

Lembro de um tempo em que, ao precisar fazer um contato telefônico com alguém, tinha de me dirigir ao orelhão mais próximo de casa onde muitas vezes tinha que percorrer alguns quarteirões com as fichas no bolso. Punha a ficha e discava o numero desejado aguardando a pessoa atender. Aquele barulho da ficha continha certa emoção por que a pessoa do outro lado se encontrava. O cair da ficha denunciava a presença. E se fosse a pessoa amada o cair da ficha soava como música. Era o tilintar dos deuses.

A ficha também morreu. Agora temos a web cam. A web cam trouxe a imagem, as formas, a timidez e a descompostura. Trouxe também a sedução, o exibicionismo e o sexo barato. Nossa casa cabe toda na tela da web cam. Cabemos todos dentro dela.

Somos todos dependentes e reféns da tecnologia e nossa vida não sobrevive sem ela. Lamento porém que a tecnologia tenha acabado com a emoção e com a lentidão da vida. A vida era mais lenta no passado, as horas e os dias eram intermináveis. Tudo agora é tão rápido, sem emoção, sem ritual. O sol já não desliza mais como antigamente. O sol corre para sumir no horizonte e nos trazer noites e noites.

E sem emoção, objetivamente corremos, acumulamos e nos suprimos para onde e para nada...

Livingston Streck

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

DICAS DO FILME 9 ½ SEMANAS DE AMOR


Recentemente revi o filme Nove semanas e meia de amor com Mickey Rourke e Kim Basinger. A despeito do filme retratar psicologicamente os caminhos sombrios das fantasias eróticas e suas reais conseqüências, por outro lado pude verificar que o ator Mickey Rourke, no papel de John, nos brinda com um show de elegância, sedução e cavalheirismo na conquista de Elisabeth interpretada por Kim Basinger.

O que um homem elegante deve fazer para conquistar a pessoa amada:

a) Olhar fixamente a mulher com segurança e sorrir muito.
b) Prestar atenção nas atitudes da mulher e nos seus desejos para surpreendê-la em solucionar algo que ela não conseguiu resolver mas que você percebeu por prestar atenção.
c) Ter bom humor sempre em todas as situações possíveis.
d) Preparar a roupa dela para ir trabalhar deixando-a passada em cima da cama ( um gesto que pode ser feito várias vezes )
e) Levantar antes que ela e preparar um delicioso café da manhã com as coisas que ela gosta.
f) Ligar para a mãe dela para saber qual o prato predileto e surpreendê-la fazendo-o você mesmo o prato.
g) Comprar um presente num pacote bem bonito e pedir para vir pegar em suas mãos por que adora ver seus movimentos. ( não esquecer de dizer isso a ela ).
h) Não ter vergonha de correr com ela no parque, na rua ou na calçada. Se puder pegar no colo, pegue-a e gire no ar. Toda mulher tem uma menina dentro de si que precisa ser atendida também.
i) Conheça lugares inusitados e diferentes e a leve lá. Pode ser apenas para dizer um “ eu te amo “. ( não precisa nem fazer amor na escada debaixo da bica d’água como no filme ).
j) Prepare o ambiente para que ela lhe faça um belo streap-tease, com música, pipoca para que ela seja a rainha e a estrela da sua noite.
k) Ela precisa saber que você tem raízes e passado. O personagem do filme ocultou o seu passado e suas raízes por isso a perdeu.


A lista de atitudes é interminável para que um homem elegante possa por em prática na conquista ou manutenção do seu relacionamento. As atitudes descritas acima são sugeridas pelo filme Nove semanas e meia de amor.

Livingston Streck

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

FAST FOOD AGRAVA CRISE DE CIVILIDADE ENTRE AMERICANOS

Tese é defendida por professora californiana, que vê reflexos na situação de radicalismo político do país

Estudos mostram que pessoas gastam apenas 20 minutos por refeição, o que desestimularia conversa e tolerância


Cristina Fibe
De Nova York

Há uma “ crise de civilidade “ nos Estados Unidos que afeta principalmente a política, e uma das razões para isso é o fato de as pessoas dedicarem cada vez menos tempo às refeições em grupo.

A tese está no livro “ The Taste for Civilization – Food, Politics and Civil Society “ ( o gosto pela civilização – comida, política e sociedade civil; à venda na Amazon.com por cerca de R$ 40,00, mais taxas ), da cientista política Janet Flammang, 62.

Professora da Universidade de Santa Clara, na Califórnia, Flammang diz que a “ arte da conversação “ é aprendida à mesa, onde “ há um incentivo para discordar sem dar aos outros uma indigestão ”.

Em entrevista à Folha, Flammang diz ver esse problema refletido no Congresso, onde os “ políticos de partidos diferentes não socializam “. Em outubro, ela participa de painel promovido pelo governo para discutir o assunto, parte do “ tour da civilidade por 50 estados “.

A iniciativa é de Jim Leach, ex-congressista que foi nomeado pelo presidente Barack Obama como titular do National Endowment for the Humanities, agência do governo dedicada a apoiar pesquisa, educação e programas públicos em humanidades.

Leach viaja pelo país, desde o fim de 2009, dando palestras sobre “ o discurso do ódio e os seus perigos “.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Folha – A sra. Diz, em seu livro, que a democracia se beneficiaria de refeições mais longas. Como relaciona as duas coisas?

Janete Flammang – Desenvolver a arte da conversação é extremamente importante para aprender a discordar de forma civilizada. E aprendemos essa arte à mesa. Quanto menos tempo dedicamos às refeições, mais colocamos essa habilidade em perigo. À mesa, há um incentivo para discordar sem dar aos outros uma indigestão. Muito da política atual nos EUA é uma política de ataque, na qual se quer marcar pontos e derrubar o oponente, e não ouvir. O foco do livro é a conversação. A conversa não é uma discussão, há regras sobre como ouvir, esperar a vez e guardar o que tem a dizer. A coisa mais próxima de uma conversa é a diplomacia, que todos nós achamos ser extremamente importante. O que me intriga é: por que não estudamos como fazer as pessoas se comportarem com diplomacia?

Folha – Isso está piorando? A conversa está morrendo?

Janete Flammang – Sim. Há muitos estudos que indicam que gastamos, em média, 20 minutos no jantar, à mesa, e mais e mais pessoas já nem se sentam para dividir uma refeição, pegam algo e saem correndo. Meu livro é sobre a situação americana, mas há evidências de que outras culturas estão se tornando mais como os EUA, onde o trabalho é a coisa mais importante e você é consumido por atividades. As pessoas não param para pensar no custo de não se sentar e ter conversas, e cara a cara, porque é claro que muita coisa hoje é eletrônica.

Folha – Quais são os sinais de falta de civilidade nos EUA?

Janete Flammang – Podemos começar pelo Congresso. Tem havido forças-tarefa pela civilidade promovidas por Congressistas, que dizem que perdemos a civilidade na Casa, a habilidade de socializar com pessoas de outro partido e de discordar. Muito disso se relaciona à chamada revolução republicana de 1994, quando Newt Gingrich tomou conta [ da Câmara dos Representantes ]. Muitos vêem isso como um ponto-chave, porque ele disse aos republicanos que voltassem aos seus distritos todos os finais de semana e não mudassem suas famílias para Washington. Isso significou que havia muito pouca socialização entre congressistas. Hoje, as salas de jantar estão vazias, eles não se socializam.

Folha – As iniciativas de Michelle Obama [ pela alimentação orgânica e contra a obesidade infantil ] tiveram resultado?

Janete Flammang – Qualquer coisa que a Casa Branca faça tem grande importância simbólica. E as pessoas que trabalham na Casa Branca estão muito mais sensíveis a essas questões do que antes. Não só o Departamento da Agricultura, mas outros departamentos estão mais preocupadas com produtos de qualidade e com a crise da obesidade. Michelle não tem poder oficial, mas, nos EUA, o comportamento da “ primeira família “ tem grande importância simbólica.

Folha – Repito uma pergunta que a sra. faz: como é possível encontrar tempo para rituais alimentares em uma cultura acelerada e workaholic?

Janete Flammang – Depende de cada lar, não há uma única resposta única. Sei que em lares em que os salários são baixos é muito difícil, mas a primeira medida a tomar é encontrar uma maneira para que haja pelo menos um jantar comum [ por semana ]. Questiono também o número de horas que os americanos dedicam ao trabalho. Devemos ter cargas horárias mais humanas, para que os pais possam voltar para casa antes de os filhos dormirem. A Europa tem dias mais curtos e igual produtividade. Falo no livro sobre o modelo europeu de menos horas, mais tempo para a vida.

Fonte: Folha de São Paulo, caderno mundo A24, 22/08/2010.

Transcrito por Livingston Santos Streck