quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

VENDE-SE UM HOMEM

Vende-se um homem
Que dá flores
Que beija a mão
Que abre a porta do carro

Vende-se um homem
Que espera a mulher
Passar na frente
Que tira
O cisco do casaco
Que tira o cisco
Do olho
Que remove
O cabelo do rosto

Vende-se um homem
De roupas limpas
De pele perfumada
E que lava
A alma

Vende-se um homem
Que beija
Como se fizesse amor
E que faz amor
Com se beijasse

Vende-se um homem
Que depois do gozo
Se aninha
Se aconchega
E interminavelmente
Acaricia

Vende-se um homem
De poesia
Que faz versos
A quem ama
Que a poetiza
Por inteira
Que eterniza
O amor em palavras

Vende-se um homem
De cochichos na cozinha
De conversas longas
No parque
De ouvidos
E olhos atentos
Na cama

Vende-se um homem
Que dorme por último
Que vela
Que cobre
O ombro descoberto
Que se posta
Ante o olhar
Que dorme
Que assiste
Sonhos
Pelo rosto
Da pessoa amada

Vende-se um homem
Que divide histórias
Livros
Poesia
Que lê
De mãos dadas
O poema “ As causas “
De Jorge Luis Borges

Vende-se um homem
Que gosta
De mitologia grega
Para dividir com ela
A história,
De Penélope,
Orfeu e Eurídice,
Antígona,
Ísis e Osiris

Vende-se um homem
Que comprou
“ O amor esquece de começar, “
do poeta Carpinejar,
Só pra ler
Ao telefone
Pra ela

Vende-se um homem
Que olha tudo
Roupas
Sapatos
Jóias
Livros
Perfumes
Cosméticos
E em tudo
Vê a cara dela

Vende-se um homem
Que se orgulha dela
Que a chama
De Princesa
Rainha
E que sempre
Será
A mais bela
Da festa

Vende-se um homem
Que seguiu os conselhos
De Honoré de Balzac,
Que dissecou
O corpo da mulher
Pra entendê-la
Por dentro
E conseguiu descobrir
Os seus caminhos
Os seus labirintos

Vende-se um homem
Que já deu nome a livro
A ela
Pra eternizar na poesia
Que os séculos
Hão de manter na memória
Nas páginas amarelas
Na corrente sanguínea

Vende-se um homem
Que ora percorre a vida
E que aceita em moeda
Apenas um olhar.

Livingston

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