domingo, 24 de janeiro de 2010

A MULHER, O AMOR E A MORTE

Prezados amigos (as)

Produzi um texto em decorrência de fatos recentes referentes à violência contra a mulher. Deduzo que o mesmo contenha informação de utilidade pública portanto se desejarem repassar a outros sintam-se á vontade. Um amplexo.


Nestes últimos dias, a mídia nos apresentou três casos estarrecedores de mulheres que foram assassinadas pelos seus parceiros. O primeiro deles, uma dentista que conheceu seu parceiro pela internet, submeteu-se a casar sob determinada pressão ( não tem mais homem no mercado ), e acabou sendo assassinada pelo seu consorte quando descobriu que o mesmo não prestava. No outro caso a mulher foi encontrada dentro de um freezer após três meses de desaparecida e por último, talvez o mais estarrecedor pelas imagens mostradas na teve, o parceiro desfere noves tiros a menos de um metro do seu “ ex-amor.” O que há de comum nestes casos? A busca pelo parceiro ideal, a proteção e o amor.


No livro “ A cama na varanda “ da psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins encontrei os seguintes dizeres a respeito das expectativas criadas em torno do amor. Diz ela:


“ Na busca de estabilidade e segurança afetiva qualquer preço é pago para evitar tensões que decorrem de uma vida autônoma. Assim, o desejo de conviver com intimidade se confunde com a ânsia de manter a estabilidade, levando as pessoas a suportar o insuportável. Tentando justificar sacrifícios ou frustrações pessoais, cria-se um mundo fantástico em que defesas como a negação e a racionalização são acionadas para que se continue a viver uma relação idealizada, distante do que ocorre na vida real.” Págs. 179-180


Sobre as concessões feitas no casamento e nas relações de um modo geral, do qual acredito ser a maior determinante para o término das mesmas, diz ela em outro parágrafo o seguinte:


“ Quanto mais concessões são feitas para se manter o casamento, mais hostilidade vai surgindo em relação ao outro. Hostilidade, na maioria das vezes, inconsciente, que vai minando gradativamente a relação, até torná-la insustentável.” Pág. 180


Quase todo mundo já leu em algum manual de psicologia feminina que as mulheres buscam seus parceiros pelos desejos inconscientes e primitivos de proteção, provisão, boa genética na concessão dos filhos a serem gerados, bom pai que irá defender sua prole, o super herói infalível, etc.


A mulher carrega em sua natureza o espírito gregário que a afasta veementemente da solidão humana. Para ela, a solidão é uma doença insuportável que precisa ser extirpada a qualquer custo. Recorrendo novamente a Regina Navarro Lins destaco o que ela diz sobre este assunto:


“ Quase todas as mulheres na nossa cultura estão aprisionadas pelo mito do amor romântico e pela idéia de que só é possível haver felicidade se existir um grande amor. Principalmente as mulheres. Mesmo tendo vários interesses na vida e parecendo feliz, a mulher, quando está sozinha, sempre se pergunta se essa felicidade é real. Não importa muito se a relação amorosa é limitadora ou tediosa. Qualquer coisa é melhor do que ficar sozinha. “


As mulheres obtiveram grandes conquistas pela via do feminismo e até pela nossa legislação. Foram equiparadas ao homem como cidadãs e conseguiram se estabelecer no mercado de trabalho como competentíssimas profissionais. Se libertaram das amarras sexuais impingidas pelos homens durante séculos. Sobre o assunto, a Antropóloga americana Helen Fischer diz no livro “ Reflexões para o futuro “ o seguinte:


“ Quanto mais fortes as mulheres se tornam economicamente, mais serão parceiras ativas em suas vidas eróticas. Elas comprarão vídeos, tentarão novas posições, escolherão homens mais jovens, experimentarão sensações novas como não fizeram desde a longa tradição agrícola – durante a qual se pensava que eram criaturas assexuadas. As mulheres se tornarão mais predatórias. “ Pg. 35


Do que a mulher ainda não se libertou? Do amor romântico e da idealização primitiva do seu parceiro? Acompanhando as cenas destes assassinatos mostrados na mídia, como mera amostragem apenas, pois sabemos que milhares de mulheres são assassinadas anualmente em nosso país, ocorreu-me pensar com olhos femininos. Se mulher fosse e estivesse em busca do meu parceiro, não para me proteger, não para prover alimentos, não para me dar filhos pois tudo isso a mulher já conquistou sem a presença do homem, preocuparia-me antes dos lindos olhos verdes, dos musculosos braços e da simetria da sua face, obter informações de forma prática e profícua. Exigiria seu CPF e RG antes do primeiro encontro. Pediria antecedentes criminais e atestado de sanidade mental antes do primeiro beijo. Comprovante de residência, carteira de trabalho, dois telefones e endereços de parentes e dois telefones e endereços de amigos antes de ir para a cama. Antes de aceitar o pedido de casamento entraria com medida cautelar contra maus tratos, ciúme exacerbado e extorsão monetária e sexual.


Mulheres, o que expus aqui pode ser risível mas posso lhes garantir que já estamos vivendo no mundo cão. Toda a proteção ainda é pouca.


Muito se falou sobre a Lei Maria da Penha que não estaria sendo benéfica no sentido de evitar a violência contra a mulher. A Lei tem um caráter inibitório e protetiva contra os atos iminentes e já praticados pelos homens e pessoas em geral do convívio familiar. É bom lembrar que a lei não foi feita somente contra os homens mas contra qualquer pessoa que provoque violência contra a mulher.


O art. 7º da Lei Maria da Penha resume quais são as condutas que ferem o direito da mulher:


“Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. “

A despeito das críticas feitas a esta lei é bom lembrar que por si só a lei não impedirá que determinado homem invada a residência da mulher e a mate. Deve a mulher ter conhecimento do potencial violento e insano de seu ex-parceiro e exigir do estado a proteção devida da sua incolumidade. Por isso sugeri de forma humorada a certidão de sanidade mental do parceiro de forma que toda a proteção ainda é pouca. Repito, o mundo é do cão mesmo.

Livingston Streck

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