quarta-feira, 4 de maio de 2011

BIN LADEN E O DIREITO DE SER SEPULTADO SEGUNDO A PEÇA “ ANTÍGONA “

A morte de Bin Laden conforme está sendo noticiado e da forma como ocorreu, me fez lembrar da tragédia grega “ Antígona “ de Sófocles.

Na peça, Antígona revolta-se contra seu tio Creonte, um tirano que assumiu o poder, por que o mesmo proibiu que Polinices, irmão de Antígona, fosse enterrado de forma digna conforme o costume grego.

Polinices desafiou seu irmão Etéocles e lutou contra ele para assumir o poder em Tebas depois da morte de Édipo, seu pai, mas ambos morreram neste embate. Creonte, herdeiro natural do trono, enterrou com todas as honras Etéocles mas proibiu que Polinices fosse enterrado e decretou a morte quem o fizesse.

Antígona revolta-se então contra seu tio Creonte e o desafia dizendo que vai enterrar seu irmão conforme os costumes.

Osama Bin Laden, terrorista morto pelo exército americano segundo as próprias palavras do presidente Barack Obama, teve destino similar ao de Polinices da tragédia grega. Nenhum interesse tenho eu de invocar dignidade ao insepulto terrorista mas, tão somente, na morte de quem quer que seja, deveria ser respeitado as crenças de cada um para que o costume de um povo não seja aviltado.

Me posiciono de forma contrária ao desfecho dos fatos ocorridos com o terrorista em questão pois acho que o mesmo deveria ser pego com vida e sofrer um processo por atentado contra a humanidade e penalizá-lo com a pena de morte tal qual ocorreu com o ditador Saddam Hussein.

Quem conhece a peça “ Antígona “ sabe que ela desafiou Creonte e foi condenada a morte por cumprir o prometido conforme as crenças locais. Hémon, filho de Creonte e também companheiro de Antígona, morre por protegê-la e por mostrar ao pai a tirania e o abuso do poder a que ele se deixou dominar.

Esta tragédia apresentada por Sófocles é de uma riqueza analítica sobre fatos contemporâneos e possui um lastro filosófico para entendermos os embates ainda hoje decorrentes sobre o que é costume e o que é direito.

O povo americano louva o desfecho e a possível morte do terrorista Osama Bin Laden, digo possível, pois até o momento não foram divulgadas satisfatoriamente as fotos e comprovações mais convincentes do ocorrido.

Entendo a necessidade da catarse americana para vingar a morte das suas mais de três mil vítimas do World Trade Center e do avião que caiu perto do Pentágono mas não concordo com o aviltamento do estado de direito, dos costumes e do processo que uma democracia deve respeitar. O terrorista faz a sua lei. A democracia é feita pelo consenso do estado representado pelo povo através da sua legislatura.

Bin Laden foi jogado ao mar conforme dizem os jornais. Em não havendo corpo, não haverá punição, não haverá a pedagogia e o cumprimento da lei. Apenas a atitude tresloucada de uma vingança catártica que inflamará os adeptos e os seus seguidores a, isto sim, procurar cumprir os costumes a que estão submetidos por sua cultura.

Livingston Streck

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