sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

AMOR E MORTE

É recorrente na mídia, noticia de alguém inconformado com o fim do relacionamento querendo matar o seu objeto de amor. Ontem, mais um caso ocupava as fontes de informação sobre um homem que fez sua mulher de refém em Araçatuba pois não aceitava o fim da união. Um trecho da noticia dizia o seguinte:

“Portando uma arma de fogo e duas garrafas pet com gasolina, Oliveira, que estaria inconformado com o fim da união do casal, ameaçou colocar fogo no local e matar Márcia.” Yahoo noticias, 02/12/10.


Lendo esta noticia refleti o quão decadente anda as agruras do amor e do abandono em nossos dias. Como tem faltado poesia e glamour na tragédia. Sendo assim, tive que me socorrer de Tristão e Isolda para poetizar a tragédia.

Foi então que busquei as últimas palavras de Tristão e Isolda em seu trágico desfecho. Diz Isolda:

“ A morte não é nada para mim; pois se Deus o quer, aceito-a; mas, amigo, quando o souberdes, morrereis também! Nosso amor é de tal modo, que não podereis morrer sem mim, nem eu sem vós. Vejo vossa morte diante de mim, ao mesmo tempo a minha. Ah, amigo, falhou o meu desejo: era ele de morrer em vossos braços, de ser sepultada em vosso esquife; mas assim não quis Deus. Vou morrer só, e sem vós desaparecer no mar. Talvez nem saibais de minha morte, esperando que eu chegue. Se Deus quiser, ficarei curado. Talvez, após mim, iríeis amar outra mulher, amareis Isolda das Mãos Alvas! Não sei o que será de vós, amigo, ou que vos cure, ou ambos morramos, da mesma agonia! “

Ao que respondeu Tristão:

“ - Não posso mais reter a minha vida. Disse três vezes: “ Isolda, minha amiga.” Na quarta vez entregou a alma a Deus. “

E por fim Isolda:

“ Voltou-se para o Oriente e orou a Deus. Depois, descobriu um pouco o corpo, estendeu-se junto dele. Beijou-lhe a boca e a face, e abraçou-o, apertado: corpo contra o corpo, boca contra boca, e morreu com ele, pela morte de seu amigo.” Tristão e Isolda, págs 131, 132 e 133.

O amor deve ter essa beleza, esse pacto. A sua impossibilidade deve ser dividida com a mesma dor. Quão arcaico e primitivo é a obsessão de um ser ao outro. Não suportar o fim do amor ou o seu abandono.

Se alguém deseja matar o outro por que não suporta ser abandonado é por que amor nunca houve. Se houve amor e acabou, a pessoa abandonada não vê razão de continuar a viver e suicida-se com glamour e poesia.

É isso que fez Werther na impossibilidade de amar sua prima Lotte. É de Werther algumas frases esparsas construídas genialmente por Goeth no clássico homônimo.

Diz ele:

“"É como se um véu tivesse rasgado diante de minha alma e o espetáculo da vida infinita se transformasse em um túmulo dentro de mim".

"Só vejo um final para esta miséria: o túmulo"

"Oh! Cem vezes já peguei do punhal para livrar meu coração do peso que esmaga"


E diante da impossibilidade de amar, Werther dá fim a sua vida.

Mata-se por que se coisifica pessoas. Mata-se por que pessoas se tornam propriedades do egoísmo do outro. Mata-se por que se trancafia e se asfixia o amor que é tão livre como o vento.

Livingston Streck

Nenhum comentário:

Postar um comentário