domingo, 12 de setembro de 2010

A PRESSA, O IMEDIATISMO E O FIM DA EMOÇÃO


Até os meus trinta anos eu não sabia o que era internet, email, skype, web cam e demais parafernálias. Também não tinha celular. Até os meus vinte anos eu não tinha telefone em casa.

Me comunicava por cartas. Pela boa e velha cartinha. De 15 em 15 dias recebia as cartinhas das minhas paixões, dos amigos e parentes. Meu coração pulava quando o carteiro tocava a campainha por que sabia que alguém estava chegando através das linhas rabiscadas no papel.

Recebia cartas perfumadas as quais eu me demorava cheirando antes de ler. Deixava pousada em meu peito por alguns instantes afim de materializar aquela pessoa que distante chegava até minhas mãos pela sua caligrafia. Beijava aquelas folhas, aquelas linhas e aquelas letras.

Eram papéis coloridos, com gravuras coladas e páginas e páginas. Antes de ler tinha o meu ritual que durava muitos minutos. Após o ritual começava a leitura da carta. Lia e relia o primeiro parágrafo umas dez vezes. Precisava estar certo de que alguém parou para me escrever. Que alguém parou para gravar no papel toda a emoção e saudade da ausência e da distância. Guardava as cartas em caixas de sapato para recorrer a elas quando precisava ter a pessoa por perto.

A carta morreu, virou e-mail. Imediata, fria e sempre com pressa. Não tenho mais o perfume dela, o carteiro não vem mais a minha casa entregar e não pouso-a mais em meu peito. Ela chega em silencio na caixa de e-mails fria e sem emoção. Lemos, arquivamos o que interessa, deletamos o que não interessa respondemos ou não dependendo da circustância.

O e-mail é a metáfora dos novos tempos. Parece que uma certa emoção e uma certa delicadeza já não cabem mais em nossos relacionamentos. Temos que ter pressa, pouca emoção e muita objetividade. O twitter reduziu a carta a 140 caracteres. Temos que dizer tudo em 140 caracteres. Ainda reduzirão a comunicação para míseros caracteres em breve.

Lembro de um tempo em que, ao precisar fazer um contato telefônico com alguém, tinha de me dirigir ao orelhão mais próximo de casa onde muitas vezes tinha que percorrer alguns quarteirões com as fichas no bolso. Punha a ficha e discava o numero desejado aguardando a pessoa atender. Aquele barulho da ficha continha certa emoção por que a pessoa do outro lado se encontrava. O cair da ficha denunciava a presença. E se fosse a pessoa amada o cair da ficha soava como música. Era o tilintar dos deuses.

A ficha também morreu. Agora temos a web cam. A web cam trouxe a imagem, as formas, a timidez e a descompostura. Trouxe também a sedução, o exibicionismo e o sexo barato. Nossa casa cabe toda na tela da web cam. Cabemos todos dentro dela.

Somos todos dependentes e reféns da tecnologia e nossa vida não sobrevive sem ela. Lamento porém que a tecnologia tenha acabado com a emoção e com a lentidão da vida. A vida era mais lenta no passado, as horas e os dias eram intermináveis. Tudo agora é tão rápido, sem emoção, sem ritual. O sol já não desliza mais como antigamente. O sol corre para sumir no horizonte e nos trazer noites e noites.

E sem emoção, objetivamente corremos, acumulamos e nos suprimos para onde e para nada...

Livingston Streck

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