sexta-feira, 9 de julho de 2010

A PROSTITUTA-PRINCESA E O PRÍNCIPE- MONSTRO

Antes que alguém me defenestre, quero dizer que não estou fazendo um julgamento negativo a respeito da prostituta nem pondo-a um andar abaixo da sociedade. Aliás, prostitutas e jogadores de futebol tem quase a mesma função: enquanto aquela fornece o prazer no varejo, estes distribuem o prazer no atacado.

Elisa e Bruno são personagens de uma história macabra muito recorrente em nossos dias. O que os põe em evidência é a fama e o dinheiro. Fossem míseros mortais, passariam em brancas nuvens, quiçá seria alvo de inquérito policial.

Elisa, sabidamente uma garota de programa e atriz de filmes pornôs, se alguém duvidar é só procurar numa locadora um filme em que ela tenha participado, e Bruno, ótimo goleiro do time mais popular do Brasil, ela, Elisa, cruza o caminho de Bruno para lhe vender ou doar os serviços sexuais dos quais tem bastante maestria. Até então encontram-se a prostituta e o príncipe para os devidos caprichos sexuais. O príncipe, idolatrado por uma multidão vê-se acima do bem e do mal, sem valores solidificados, sem responsabilidade, afinal, é intocável.

Mas eis que derepente o príncipe descuida-se e o que era para ser meramente uma farra vira caso de maternidade. A prostituta encontra-se grávida e pleiteia a posição de princesa. Por sua vez o príncipe ao tomar conhecimento de que o seu objeto de prazer carrega seu descendente e sua marca no mundo, de príncipe se transforma em monstro.

A agora princesa apaixona-se pelo seu mouro de Veneza e o vê como o Othelo Shakespeariano, perfeito perpetuador da sua espécie, rico, lindo, o pai perfeito. Mas ela esquece que o seu príncipe agora é o monstro. E o monstro não suporta a idéia de que uma prostituta possa carregar a sua semente, o seu representante, pois esta princesa fora apenas um objeto de carne a satisfazer-lhe a sanha.

A princesa não consegue ver o monstro no seu consorte. Quer o homem, o pai, o provedor. Uma Pasífae loucamente apaixonada pelo touro.

À parte a mitologia grega e a fábula que explicita fatos reais, Bruno e
Elisa representam os mais recônditos traços do que ainda prevalece de irracional em nós. Há um primitivismo brutal em Bruno oriundo de séculos. Em Bruno há a materialidade de séculos de machismo onde à mulher cabe o papel tão somente de repositório.

Já dizia o poeta Ovídio na sua obra “ A arte de amar “ que a mulher não sabe esquivar-se do fogo e das cruéis flechas do amor. “

Recorrendo à psicanalista Regina Navarro Lins no seu livro “ A cama na varanda “ diz ela o seguinte sobre a velha relação entre homens e mulheres:

“ A fidelidade feminina sempre foi uma obsessão para o homem. É preciso proteger a herança e garantir a legitimidade dos filhos. Isso torna a esposa sempre suspeita, uma adversária que requer vigilância absoluta. Temendo golpes baixos e traições, os homens lançaram mão de variadas estratégias: manter as mulheres confinadas em casa sem contato com outros homens, cinto de castidade e até a extirpação do clitóris para limitar as pulsões eróticas. As adúlteras eram apedrejadas, afogadas, fechadas num saco, trancadas num convento ou, como acontece hoje no ocidente, espancadas ou mortas por maridos ciumentos, protegidos por leis penais lenientes com os crimes passionais.” Pg. 40.

Pobre Bruno, pobre Elisa, pobre raça humana, pobre sociedade contemporânea.

Livingston Streck

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