terça-feira, 22 de junho de 2010

A DEPENDÊNCIA EMOCIONAL PODE SER UM VÍCIO SIMILAR A DROGA

“ A porta da felicidade abre só para o exterior, quem a força em sentido contrário acaba por fechá-la ainda mais. “ Soren Kierkegaard


Decidi tratar deste tema após contato com pessoas envoltas com problemas emocionais e ler sobre o assunto em algumas revistas e livros que tratam sobre a matéria. Por vezes ficamos chocados com pessoas viciadas em drogas mas não percebemos que se somos viciados em dependência emocional podemos também ser os drogados emocionais.

Primeiramente é preciso entender como funciona o nosso corpo em relação aos estímulos que nos causam o prazer.

O corpo é dotado de alguns receptores chamado receptores opióides que tem a função de receber as endorfinas e os neuropeptídeos produzidos pelo hipotálamo. Há os opióides endógenos que são produzidos pelo próprio corpo e os exógenos administrados externamente e tem como objetivo precípuo regular a sensação de dor. As endorfinas e as encefalinas como neurotransmissores, modulam as sensações objetivando restaurar a sensação de bem estar do organismo.

E como age a droga em nosso corpo e por que ocorre o vício? É o que vamos explicar sucintamente.

A droga heroína é reconhecidamente uma das drogas que mais causam dependência dentro da célula de nosso organismo. E como ela age? A droga depois de injetada, se fixa nos receptores opióides que foram biologicamente preparados somente para receberem as endorfinas e os neuropeptídeos. Em vez de receber a endorfina, a célula entra em contato com a heroína e a partir daí se torna dependente.

Sobre a maconha há um estudo muito interessante abordado pela doutora Candance Pert no livro “ Quem somos nós.” Diz ela assim:

“ Temos receptores específicos para a maconha no organismo. E por os temos? Porque nosso corpo produz internamente compostos químicos que nos dão a mesma sensação causada pela maconha. O mesmo acontece com qualquer droga à qual fiquemos fisicamente dependentes – existe dentro do corpo um composto químico análogo a cada uma delas e um receptor no qual ele pode se ligar. Temos receptores para a maconha e temos uma maconha natural chamada endocanabinóide. (...) Já há dados suficientes para sugerir que as drogas psicoativas não funcionam sem estarem ligadas a um receptor normalmente utilizado para secreções internas.
Em outras palavras, para qualquer droga externa que tenha efeito em nosso corpo existe uma contrapartida interna – é por essa razão que nosso corpo reconhece, responde e se torna dependente dessas drogas. As drogas externas usam os receptores internos feitos para receber produtos químicos internos. “ Pg. 171 e 172

O que é interessante observar mediante as conclusões extraídas acima que, por alguma razão, o nosso corpo já foi dotado de compostos químicos responsáveis para nos proporcionar prazer sem que haja a necessidade de recorrer aos compostos químicos exógenos. Alguém já pensou nisso antes com bastante inteligência. O uso da droga exacerba, causa dependência e desequilibra a fonte do prazer distribuída em nosso organismo. E, ao meu ver, os estímulos naturais que deveriam provocar a sensação de prazer ficam absolutamente dependentes da droga. Por esta razão ocorre o grande número de viciados que já não vêem prazer na vida a não ser pelo consumo da droga.

E a droga emocional? É o que iremos discorrer agora após entendermos o processo dos compostos químicos.

O que é emoção? Há uma infinidade de significados sobre a emoção pois é um elemento subjetivo ao homem. É a resposta dele aos estímulos externos. As emoções podem ser variadas indo de um pólo ao outro, ao extremo da felicidade ao extremo da tristeza. Ela vai estar ligada sempre aos fatos correspondentes que originarão nossas sensações. Podem ser coletivas, individuais mas sempre de forma subjetiva dependendo da personalidade de cada um.

As emoções tendem a seguir o mesmo caminho da dependência química porque também produzem os chamados peptídeos ou moléculas de emoção que da mesma forma, se ligam aos receptores da célula. Assim como há o uso repetido da heroína causando a dependência e a escravidão da célula, o uso repetido das emoções também faz com que as células se tornem dependentes ansiando por aquele peptídeo específico. O corpo fica dependente daquela emoção.

De forma bem humorada, Mark Vicente, um dos autores do livro “ Quem somos nós “ à pg. 172 diz:

“ Dependências? Não tenho nenhuma. Bem, o.k., sou viciado em algumas coisas. Como o que? Insegurança, estresse, preocupação, mania de estar certo, farisaísmo, controle, raiva, inflexibilidade, imposição, medo... já mencionei o estresse? “

E o que é uma dependência emocional? Para termos um entendimento profundo sobre isso teríamos que fazer um estudo a parte de como funciona o cérebro e toda a sua rede neural pois ali estão estabelecidos os nossos padrões e tudo que recebemos durante a vida. A titulo de conhecimento para sabermos o quão complexo é nosso cérebro, é sabido que um pedaço de cérebro do tamanho de um grão de areia contém 100 mil neurônios e 1 bilhão de sinapses. E nesta vasta rede neural estão contidas nossas emoções, nossas lembranças e nossas habilidades.

A dependência é uma necessidade de suprirmos algo. Surge a dependência quando algo está acostumado com determinada coisa e esta coisa sente falta ou fome. Dependemos do alimento por que nosso corpo sente fome. Nossas células reclamam das substancias encontradas nos alimentos. As emoções seguem o mesmo caminho. A dependência emocional é o reclamo das células quando alguma coisa não é suprida. Esta coisa deve ser algo recorrente, costumeira, ininterrupta que na falta ocorra a sensação de abstinência e o desequilíbrio psíquico, emocional e físico.



O bioquímico e Neurologista Joe Dispenza disse o seguinte sobre a dependência:

“ Minha definição de dependência é simples: é uma coisa que você não consegue evitar. Se você não consegue controlar seu estado emocional, deve estar dependente dele.”

A emoção é algo ruim? Penso que não. Uma dependência emocional é ruim? Tudo aquilo que foge ao nosso controle, que nos aprisiona, que nos escraviza e que perdemos o domínio é ruim e nefasto. Uma pessoa dependente emocionalmente de outra ou de outras, quer seja cônjuge, namorado, pai, mãe, patrão, amigo ou alguém que exerça influencia sobre o outro e destes seja extremamente dependente, não se imaginando sem determinada pessoa ao lado independente do que possa separá-los, entendo que esta pessoa viva uma dependência emocional.

Somos seres gregários, interativos e precisamos da convivência dos nossos semelhantes. Mas não somos dependentes nem propriedade de ninguém. Ouvi de um palestrante a seguinte frase: “ a maior prova de que não pertencemos a ninguém e ninguém nos pertence é que a morte vem e leva sem pedir licença.” Ninguém pode impedir a morte de levar a pessoa que mais amamos.

Auxiliando determinada pessoa que estava envolta com dependências emocionais disse a ela que as vezes nós tratamos as pessoas como drogas. Fazemos de nossos namorados (as), amigos, familiares verdadeiras drogas psicoativas. Não sabemos viver sem, não sabemos perder e não sabemos romper quando necessário. Arrastamos relacionamentos doentios por que temos que alimentar nossas células com os sentimentos mais deletérios.

A falta de amor próprio, auto-estima, independência, distorção da própria imagem nos leva a sermos escravos dos outros. Depositamos no outro a solução dos nossos problemas esquecendo-nos que as pessoas não conseguem resolver os seus.

Muitas vezes também queremos mudar o outro como se fosse um objeto passível de alterações, modificações, acréscimo ou decréscimo. Desejamos mudar o outro porque egoisticamente queremos um espelho. Ninguém deve mudar ninguém. As pessoas devem ser respeitadas na sua essência e na sua substância. Relacionamento é interação e troca.

Pensemos seriamente sobre isso e deixemos de nos “ drogar “ de pessoas. Vivamos saudavelmente fazendo uso da capacidade de sermos sós e de elaborarmos a própria vida com toda a inteligência e capacidade da qual somos dotados. Que o outro seja em nossa vida o companheiro (a) que soma, interage e divida tudo aquilo que estiver ao alcance de cada um respeitando a individualidade, as fraquezas e as limitações.

Ninguém deve fazer o papel de uma “ droga.” Ninguém deve usar o outro como uma “ droga. “ Somos seres únicos, especiais e independentes capazes de amarmos a nós mesmos para que estejamos habilitados a amar o outro.

Seja fantástico!

Livingston Streck ( Bacharel em Direito )

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