
A mulher não é um ser, é um estado de espírito. Não é um ser material mas um sentimento envolta em pele. Quando o meu dia está bem e feliz é a mulher e quando estou mal e o dia negro é a mulher.
Quando ela chega em casa e entrelaça seus beijos nos meus e os seus olhos se misturam aos meus, o paraíso verdejante repleto de anjos tocando lira se instala dentro de mim. Olho-a demoradamente como se estivesse lendo o final de uma história de amor num livro.
Dizem que o amor é cego e faço questão de cegar-me sim diante do amor. É quando o tato das minhas mãos vão lendo em braile as linhas do seu corpo ainda vestido. Aquela segunda pele a proteger-lhe o corpo. Cada dia vou descobrindo uma nova nuance, uma nova saliência, uma sutil entradinha próxima a axila, o corredor da coluna, se profundo ou raso.
Volto aos olhos e vejo aquele olhar de bandeira encravada no topo de uma montanha inexplorada. Gosto do olhar da mulher pois é um olhar de decisão. É um olhar de propriedade. A mulher olha para o seu amor com um olhar de escritura e de chave. Sabe ser dona do seu amado.
A mulher com seu olhar sabe pedir o que quer. Quando deseja ser amada sabe apontar o caminho da cama.
E quando dorme a mulher é outro espetáculo. Aquele ressonar baixo e a capacidade de dormir com a cabeça para o lado como se, mesmo dormindo, estivesse preocupada em saber se tudo está em seu devido lugar.
E não há coisa melhor neste mundo do que dormir com o braço debaixo da cabeça da mulher e com os dedos entrelaçados como dois namorados em uma praça. Mesmo dormindo a mulher aperta os dedos e puxa o seu amor para perto sem saber, eu juro.
Mistérios dessa mulher que acredito ser um estado de espírito, uma centelha de Deus alastrada no mundo através das mulheres.
Livingston Streck