sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

RUINAS

As coisas construídas
São essencialmente
Ruínas
As pedras
Que sustentam
Células
Que humanizam
Todas as coisas
Os barracos
Em carne viva
Com olhos
Que não saem
Lágrimas
O torpor do estar
Escolhas
Não advindas
Do desejo
A existência
Mero observar
Do tempo
Um amontoar
De almas
Que silenciosamente
Se sobrepõem
No imenso horizonte
Metafísico
O ar
Se num momento
Estático
Parasse e refletisse
Seu intento
Se desvencilha-se
Da vida
Podre vida
E fosse ao deserto
Se purificar
Do nojo
E da náusea Drummondiana
E deixasse
Os corpos
À mercê
Da própria vaidade
Respirar
E comer a própria
Vaidade
E se subsistisse
Apenas a dor
A fome não elaborada
A ruína
Sem planejamento
O desejo
Carcomido
Pelo pisotear
De outras ruínas
Se dois sóis
Nascessem da aurora
Como na invenção de Morel
E pra que sol
Volveria
O olho
Sem escolha?
A verdade
A sempre única
Verdade
Nunca vai estar
Na boca
Nunca vai estar
Nos olhos
A verdade
Coseu vestes
Na vergonha do paraíso
A verdade
Não suporta ver
A outra verdade
As verdades
Querem sempre
A guerra
As verdades
Querem sempre
Extinguir o sangue
A verdade
Nunca vai estar
Na boca
Nem nos olhos
A verdade
Vive no porão
Nas fétidas
Ruínas
Onde corre o sangue
A verdade
Corre oculta
No sistema sanguíneo
E nem sequer
Pode ser vista
Pelo buraco
Do Aleph
A verdade
É partidária
Corporativa
E unilateral
No que somente
Pode ser verdade
O que se vê
A olho nu.

Livingston Streck

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