terça-feira, 23 de junho de 2009

DIAS DE DORES

Gostaria de dividir com meus amigos este breve resumo do que foram meus dias internados no hospital para minha cirurgia.


Aconteceu em um sábado a noite. Era para ser mais uma noite normal depois de um dia normal. Acabara de tomar banho para deitar-me quando derepente em menos de um segundo estava estatelado no chão. Puxei a perna direita para levantar-me mas ela não respondeu. Não a senti mais a não ser a dor que me denunciava algo muito grave.

O resgate chegou e me levou para o hospital. Em cima de uma maca aguardei pelo menos duas horas até ser encaminhado para o raio x. Minha namorada ficava comigo nos momentos em que era permitido. A dor era intensa, eu de bruços na maca pois foi a posição que consegui sair de casa devido a dor.

Fui encaminhado para a sala de raio x. As posições em que eu tinha que ficar no raio x me provocavam dores intensas. Cada chapa tirada parecia uma espada que adentrava meu quadril. O resultado: fratura do acetábulo; quebrado na parte de trás onde recebi a queda e quebrado na frente com fratura na cabeça do fêmur. O médico ao pegar os exames de imediato disse: internar imediatamente pois a fratura é grave.

Eram seis horas da manhã de domingo quando entrei no quarto 32 A onde começaria minha tortura.

Na segunda feira pela manhã o cirurgião que faria posteriormente minha cirurgia disse me que havia visto os exames e que se tratava de uma fratura grave onde seria necessário fazer uma tomografia para eles se certificarem exatamente do real problema.

Na quarta feira fui fazer a tomografia. Era difícil me tirar da cama pois as dores eram intensas e qualquer movimento no quadril a dor se tornava insuportável. A saída que os enfermeiros encontraram para me retirar da cama e me colocar na maca foi me pegarem pelas pontas do lençol e daí então me posicionar em cima da maca. Mesmo assim a dor era imensa e eu gritava desesperadamente a cada vez que tinha de ser removido desta maneira.

Na quinta feira o cirurgião já com a tomografia em mãos, tinha o real conhecimento do problema. Foi até o quarto e me disse que era uma cirurgia delicada com aproximadamente seis horas de cirurgia.

Era necessário ainda um procedimento antes da cirurgia. Fazer a tração na perna para que os ossos não entrassem em processo de fibrose. Fui encaminhado até o centro cirúrgico e ali me depararia com uma situação bem agressiva. O médico anestesiou minha perna abaixo do joelho e com uma furadeira atravessou meu osso com um ferro para que pudesse ser feito a tração. Mesmo anestesiada senti intensa dor com o ferro entrando no meu osso.

Fiquei por uns dez dias com a perna tracionada com aproximadamente 12 kg puxando minha perna que ficou elevada na cama. Tive que tomar banho, fazer minhas necessidades, minhas refeições com a perna sendo puxada por 12 kg. Foi uma experiência onde tive que me despir de todos os preconceitos que até então eu teria. Era preciso ser auxiliado para tudo. Só me alimentava com alguém me auxiliando na boca. Minhas necessidades eram feitas com a participação de outros para me higienizar quando as concluía.

Minha cirurgia foi marcada para o dia 27 de maio. Dia 26 era meu aniversário. Ganhara de presente a possibilidade de poder ter meu quadril restabelecido. Os dias pareciam intermináveis até chegar o dia da cirurgia. Procurava debelar o dia lendo, refletindo, conversando com minha mãe que ficou ao meu lado quase todos os dias até minha saída e minha namorada que ficou comigo nos primeiros dias me alimentando na boca.

Chegara o dia da cirurgia. Estava marcada para as 13:00. Estava apreensivo. A cirurgia era delicada e demorada conforme o médico dissera. Orei a Deus e pus a minha vida na mão dele pois toda a cirurgia tem seu alto risco. O enfermeiro chegou e meu deu um comprimido para começar a relaxar. Não dormir propriamente mas para relaxar mais o corpo. Os maqueiros do centro cirúrgico chegaram as 12:45 hrs para me levarem ao centro cirúrgico. Mais dor. Tiveram que pegar pelo lençol para me porem na maca. Este procedimento era extremamente doloroso. Meu corpo inteiro sofria com a dor.

Fui ao centro cirúrgico e lá fui recebido pelo anestesista que já foi providenciando os procedimentos da anestesia. Fui levantado pela equipe para ficar na posição sentada para que o médico pudesse me dar a anestesia raquiana que seria a anestesia daquela cirurgia. Senti o mundo girar e comecei a perder a noção dos fatos. Ouvia vozes mas não conseguia interagir. O efeito num primeiro momento afetou- me a razão e comecei a perder controle de tudo. Já não sentia mais da metade para baixo. A sensação de não sentir parte do seu corpo é aflitiva. Parece que você não existe da metade para baixo.

Os médicos me puseram na posição que seria feito a cirurgia, vedaram a parte inferior do meu corpo para que eu não pudesse presenciar nada. Sentados a beira de minha cabeça uma menina da equipe e o médico anestesista me deram todo o apoio pois eu estava consciente durante a cirurgia. Qualquer reação que eu tinha o médico falava comigo para me manter tranqüilo. A cirurgia transcorria, ouvia ao longe os médicos conversando porém não dava para entender audivelmente o que conversavam. Senti em determinado momento o barulho dos pinos que estavam sendo postos em mim. Foram seis pinos. Simples. Possivelmente um martelo a martelar os pinos no meu acetábulo.

A cirurgia durou duas horas. Neste momento estava mais lúcido e ouvi o cirurgião dar uma opinão a outro médico sobre o que ele conseguiu fazer em relação a parte da frente do acetábulo. Deu por decretada o final da cirurgia. Era necessário ainda fazer os raio x para a conclusão da mesma. Fiz. Ainda com muita dor mas procedimento obrigatório para a verificação médica do resultado do trabalho.

Fiquei em observação durante uma hora ainda no centro cirúrgico. Depois fui para o quarto. Estava operado. Começava a ser resolvido minha catástrofe.

Recebi alta no sábado. Apesar da cirurgia as dores ainda eram intensas no meu quadril. Tinha pouca mobilidade em quase todo o corpo pois ficara 16 dias deitado na mesma posição. Meu corpo reagia com medo aos movimentos para me proteger da parte afetada. Na hora de ir embora, o enfermeiro com muito tato, cautela e sensibilidade me pos em uma cadeira de rodas. Chorei de dor mas tinha que vencer aquele momento pois desejava ir embora para casa. O ambiente hospitalar é por demais negativo. Precisava me libertar daquele quarto, daquela parede, daquela cama.

Fui posto dentro do carro com muita cautela e demoradamente pois me doía intensamente meu quadril e perna. Depois de instalado dentro do carro fui para casa. Olhei para os lados, olhei a cara das pessoas, olhei para a fachada do hospital que não conhecia apesar de ter ficado 16 dias internado. Chorei de alivio, de voltar a vida, chorei por que me doía mas também por que me libertava.



Agradeço a TODOS os amigos que estiveram do meu lado e se preocuparam comigo através do telefone, e pelas orações feitas por mim. Minha namorada Cinthia que quase perdeu o emprego por ter ido todos os dias as 17:30, na primeira semana me dar a única refeição do dia que eu fazia e tinha que me alimentar na boca. Minha mãe que teve que sair da casa dela no Rio de Janeiro para me cuidar até hoje. Ao Bruno Marquart, meu empregador , que foi até Indaiatuba com seu veículo me buscar e me levar até minha casa em São Paulo. Minha irmã Lilian que foi até São Paulo me buscar e me levar ao Rio de Janeiro e que me acolheu em sua casa por ser fisioterapeuta e me dar os cuidados necessários do qual necessito para minha recuperação. A todos os enfermeiros do HAOC de Indaiatuba que me cuidaram com amor por gostarem de gente, por gostarem de seres humanos. Não foram todos mas tiveram os filhos de Deus que fazem aquele trabalho por amor. Agradeço a Deus por ter me protegido, por me cuidar e por responder as orações dos seus filhos.


Livingston Streck

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