sábado, 17 de setembro de 2011

O NÚ COLETIVO E O PERDÃO

Spencer Tunick é o fotógrafo americano especializado em fotografar multidões peladas pelo mundo afora. Já esteve no Brasil fotografando e tirando a roupa de milhares de paulistanos no parque do Ibirapuera. Segundo o portal UOL, 17/09, Spencer Tunick acaba de fotografar mais de mil israelenses a beira do mar morto em Israel.

No Brasil, se determinada pessoa tirar a roupa em público, estará cometendo um crime penal de constrangimento. Se um fotógrafo qualquer ou o próprio Spencer desejar fotografar milhares de pessoas nuas aqui no Brasil, estarão fazendo arte e não atentado ao pudor.

Faço esta reflexão baseado nas últimas aspirações coletivas que ocorreu aqui em São Paulo sendo a primeira delas a marcha da maconha. A lei penal trata a maconha como uma substância psicoativa entorpecente, portanto de uso proibido em território nacional. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal, guardião máximo da nossa Constituição, autorizou a chamada “ marcha da maconha “ em nome da liberdade de expressão que não deve ser coibida por ser um principio pétreo.

Como não podemos esperar da esfera humana decisões perfeitas e certeiras, achei esta decisão dos ministros que votaram a favor da liberdade no caso específico um tanto esdrúxula e incoerente. Proibir o uso de tal substância mas promover a liberdade de fazer apologia do mesmo beira o irracional.

Afim de entender o porque do mesmo ato ser punível quando praticado isoladamente e quando se estende ao coletivo recebe outras qualificações, penso na força coletiva capaz de mudar paradigmas. Se pensarmos que a bem pouco tempo atrás achariamos inimaginável duas pessoas do mesmo sexo receberem do estado a autorização para se casarem, hoje pode se dizer que é uma realidade incontestável. E só é possível tais mudanças diante da força do coletivo que se impõe perante o estado e a sociedade.

Penso e espero que um dia esta força coletiva poderosa que derruba conceitos e muda uma cultura de um país, possa enfim lutar para mudar aquilo que mais lhe degrada que são os seus representantes políticos que usurpam e roubam da sociedade os tributos que são pagos, a confiança num sistema representativo que pouco o representa, a pobreza e a miséria que são mantidas para garantia perpétua de gerações e gerações de políticos que se sucedem sempre com o mesmo objetivo.

Que não só a maconha ou os direitos dos homossexuais sejam alvo de passeatas e lutas coletivas mas também o direito de termos representantes honestos que não nos roubem ou que roubem pouco pois esperar do homem honestidade e integridade pode ser fantasioso demais.

O país está enterrado na lama da corrupção. Estamos votando e pagando para políticos roubarem o dinheiro que é de todos. É como se convidassemos um desses políticos para irem a nossa casa e lá surrupiassem nossos bens sem que o víssemos. Assim está sendo feito por muitos que longe do nosso olhar roubam dinheiro da saúde, da segurança e da educação.

Se essa roubalheira se tornar coletiva será a vitória do nú. Um homem nú é um crime mas uma coletividade nua é arte, portanto não permitamos que a roubalheira vire arte em nosso país.

Livingston Streck

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