segunda-feira, 10 de agosto de 2009

PÃO, CIRCO E BOLSA FAMÍLIA

Habitamos um país que não nos pertence. Apesar da conquista do sistema republicano e a sua posterior continuidade referendada pelo povo brasileira nas urnas, ainda estamos longe de possuirmos nosso quinhão da riqueza brasileira.

Posso afirmar que nosso sistema representativo, através do Congresso Nacional, Senado e Câmara Federal e o Presidente da República, são meros agentes ( atores ), em cima de um palco onde nós, platéia, pagamos para observarmos suas atuações sem termos acesso ao script e nenhuma influência no roteiro da peça. Atores e espectadores separados por uma cortina complexa, cultural, hipócrita, servil, escravagista e cruel.

Alguns dados nos dão a mostra do retrato cruel do nosso país. A maior carga tributária do planeta nos pertence com seus 38 % em relação ao PIB. A China, por sua vez, detém 16% e a Índia 17%. A China que, paradoxalmente ainda não conhece etimologicamente os direitos humanos pois prende, condena e executa seus criminosos em uma semana, parece-nos, com seus números, não ter uma sanha sobre o dinheiro da sua população mantendo-se numa média equivalente a outros países com não menos problemas.

O governo nos toma quase 40% do produto total do país. Trabalhamos durante 4 meses somente para abastecermos os cofres do governo. Elegemos nossos representantes, pagamos seus salários para que eles nos dêem um retorno satisfatório dos 38% arrecadados.

Éramos para ter nossos problemas resolvidos. O sistema de saúde era para ser o melhor do mundo. O sistema educacional era para estar produzindo astronautas. Ninguém, ao meu ver, com 38% do PIB nos cofres do governo, deveria estar dormindo na rua.

Os problemas do nosso país são aterradores. O vírus de uma gripe estrangeira vai ceifar a vida de milhares de pessoas por que não temos a capacidade de lavarmos as mãos adequadamente ou de por em prática uma assepsia arcaica básica. O fosso social da pirâmide se alonga e continuará a produzir o seu caldo de sangue e violência. Um país embotado de circo e menos pão, se permite à subserviência e a tirania de pseudos-representantes que fingem gerir os bens e a riqueza dos seus representados. Algo está errado por aqui.

Quando um presidente se orgulha de criar e repartir o bolsa família, ele deveria saber que em Roma, os tiranos já distribuíam o seu bolsa família. Lá, distribuía-se o quarto de trigo e o sesteiro de vinho chamado de sestércio ( bolsa família romana ).

Um povo bestializado não percebe que o bolsa família nada mais é do que a devolução do dinheiro do próprio povo. O governo, o Lula e o Congresso não são emissores de uma moeda especial distribuído a uma ampla parcela famélica da sociedade. Esta generosidade é proveniente do bolso de cada um de nós. O bolsa família nasce do trabalho e do suor do rosto de cada cidadão brasileiro. Não há bondade nem generosidade nos atos oficiais. Há obrigação de se gerir tão somente a riqueza do país com lealdade e princípios.

O que está errado em nosso país? Transcrevo as palavras da Professora de Filosofia e Mitologia grega da Escola Superior de Direito Constitucional ( Profa. Luciene Felix ), que em artigo à Revista Visão Jurídica n. 38 à pag. 74 diz:

“ Artimanha dos tiranos: bestializar seus súditos! Também como instrumentos de alienação, verdadeira mantenedora da tirania, a fim de adormecer o povo, súditos da escravidão, disponibilizam-se todo e qualquer meio de distração: drogas, tavernas, casas de prostituição, jogos, lutas públicas, fanfarras, enfim, toda sorte de iscas para o entorpecimento: novelas, caras , bumbuns, BBB e outros. Não há então necessidade de precaver-se contra o povo ignorante e miserável, fácil e bestialmente entretido e domesticado com tolices vãs: “ os tiranos romanos foram longe ( na política do pão e circo )...”

Temos mecanismos para pormos a casa em ordem. Se as pessoas escolhidas para gerir os bens que nos pertencem, não estão fazendo, devemos chamá-las para conversar. O silêncio e a aprovação tácita corrobora todos os atos quer seja da câmara, do senado ou da presidência da República.

Não somos funcionários, prestadores de serviços ou mendicantes do poder. Somos nós os detentores do poder e eles ( representantes ) os nossos serviçais.


Livingston Streck
( Bacharel em Direito )

Um comentário:

  1. Estimado amigo Livingston,

    Fico feliz que tenhas transcrito esse trecho, muito revelador de nossa condição.

    Conheça outros textos jurídico-filosóficos meus amigo. Um grande abraço e Parabéns por seu Blog!
    Bjs., lu.

    ResponderExcluir